Expectativas para o 1º Semestre de 2014

Imagem 0038 - ifsp patio predio arvoresAcho que vai ser bom, muito bom. Estou animada, determinada e com foco. Depois dos primeiros dias de aula, posso dizer que em relação a minha turma vai ser bem tranquilo, escolheram outro representante de sala e não terei mais responsabilidades desse tipo. Apesar de que, se eu me recuperar bem nesse semestre, talvez eu quisesse recuperar meu posto.

Vou estudar alemão e inglês em casa, um dia na semana para cada um. Já comecei a pegar firma em Programação, estamos aprendendo a programar em C#. Com Desenho vou ter que rever algumas coisas do Semestre passado, já que eu não cheguei a fazer todos os desenhos. E o professor de Cálculo Numérico é um fofo, é daquelas pessoas que nasceram para ser professor! Ele tem calma, paciência e explica tudo muito detalhado, nunca entendi o método de Jordan -Gauss tão bem na minha vida!

Para equilibrar, não fui com a cara da professora de Metrologia, não sei se foi a bolsa cor de rosa pink cafona, o vestido mais fora de moda ou o cabelo de cogumelo.  Deveria ter tirado uma foto, à surdina, para vocês verem. Não é porque é mulher e engenheira que não pode gostar de moda e tem que andar desarrumada, muito pelo contrário. Eu não ando bonitona porque não tenho dinheiro, mas bom gosto pra roupa eu sei que eu tenho e muito bom gosto, por isso me dou o direito de meter o pau nas patricinhas da faculdade e nas professoras, hahaha!

Estou adquirindo a filosofia dos Babysteps das Flyladies, ainda quero fazer muita coisa mesmo, mas um passinho de cada vez. Meu objetivo principal é tirar notas boas em todas as disciplinas e, se der, me inscrever para o Ciência sem Fronteiras daqui um ou dois anos.

Acontece que eu estou mais calma. Estava em um ritmo mais do que acelerado por causa do trabalho em 2013, mal tinha tempo para respirar. Depois que eu deixei o serviço, continuei nesse ritmo e as minhas tardes, depois das aulas não rendiam, passavam voando. Esse ano, minha cabeça está totalmente desanuviada e completamente focada na faculdade, nos estudos de línguas e no meu blog.

Quero pedir desculpas pelos últimos posts serem de cunho tão pessoal, mas é o que eu tenho vivido, e ainda estou em processo de adaptação de rotina, sem horários para sentar e escrever totalmente focada no blog. Acredito que eu precise só mais de uma semana para acertar tudo e vou conseguir pensar em posts mais informativos. Sei que é legal ler sobre a vida de outra pessoa, a gente se identifica e repensa a própria vida, o Banana Groselha é muito voltado para o lado pessoal, mas quero fazer de forma que eu acrescente algo na vida de vocês também, trazendo dicas e soluções para os problemas rotineiros que eu passo, que muitas vezes é o que vocês também estão passando, que passaram ou que passarão em suas vidas.

Estou com muitas ideias para os próximos posts, peço que aguardem, e que tenham paciência. Quando escrevo sobre mim e sobre o que eu estou passando é a minha terapia, me sinto menos depressiva quando acabo e menos ainda quando sei que tem pessoas lendo. Quando um post totalmente pessoal faz sucesso, e recebo cerca de 6 a 10 comentários e mais ou menos 50 visualizações de 15 pessoas, fico MUITO feliz, e é melhor do que qualquer remédio antidepressivo ou antipsicótico que eu já tenha tomado em minha vida. Só tenho a agradecer. Obrigada mesmo.

1º dia de aula do 2º Semestre de Engenharia de Produção

Imagem 0036 - ifsp sol inverno caixa aguaFoi tudo tranquilo, quem diria? Senti paz em estar ali, com as esperanças renovadas de que eu vou conseguir.

No trajeto de metrô, me sentia tremer e suar frio. Ler não estava resolvendo e muito menos ouvir música. Estava com medo das perguntas ou das cobranças. Eu dei mancada no semestre passado, estava esperando retaliações ou, no mínimo, satisfações. Tirando uma menina, ninguém me perguntou nada e muito menos cobrou qualquer coisa de mim. Até achei que ficaram felizes de me ver, brincaram comigo e me trataram bem, principalmente os meninos.

Mas esse semestre vai ser puxado. Vou fazer sete disciplinas, sendo que duas é do semestre anterior. Álgebra Linear, Desenho para Engenharia II, Metrologia Dimensional, Cálculo Numérico, Programação de Computadores II, Cálculo Diferencial e Integral para Engenharia I e Geometria Analítica e Vetores. Não vou ter aulas na Segunda (estou realmente muito feliz com isso) e de Terça e Quarta terei aulas à tarde, até 15h 30min (salvo engano).

Eu realmente gosto daquele lugar, por mais que seja um prédio bem velhinho, cheio de goteiras, salas precisando de boas reformas, um calor infernal no Verão e um frio polar no Inverno. Antes de lá eu queria a USP, por causa do nome, por causa do status, por causa do meu orgulho. Começar uma faculdade com 25 anos, sabendo que eu vou formar no mínimo com quase 31, pra mim, é frustrante, como eu contei em Sobre me achar velha demais.

Vou me esforçar e ao mesmo tempo ir com calma para não me stressar e nem entrar em deprê novamente.

E acho que vou fazer duas grandes amizades com a G. e com a M., isso me anima muito, pois só tenho duas amigas que eu quase não converso por causa do trabalho e da distância. A J. está trabalhando em tempo integral e a D. foi pro Ceará, passou na UFC em Medicina (ela é o meu orgulho).

Estou em paz, animada e esperançosa. Vai dar tudo certo dessa vez.

Que tudo dê certo

Imagem 0035 - palito picole ficar depe laboratorioO primeiro semestre de 2014 será o meu segundo semestre de faculdade. Estou nervosa como se fosse a primeira vez que eu entrasse na faculdade. Semestre passado eu fiz besteira, não porque eu quis, mas porque aconteceu, e estou com medo de que aconteça novamente.

Mudei-me para São Paulo em Maio de 2010 e não sabia o que eu queria fazer de faculdade, tinha passado por muita coisa ruim e estava desorientada. A única coisa que eu sabia que teria que fazer para não continuar na casa dos meus pais, era trabalhar e me estabilizar para não precisar pedir dinheiro para ele. Assim eu fiz, e passei até o final de 2010 trabalhando, quando eu decidi quais os caminhos que eu iria percorrer.

Em 2011 eu entrei em um cursinho pré-vestibular, tinha decidido que Arquitetura e Urbanismo não iria dar certo e escolhi Engenharia Civil, fiquei até Junho no cursinho e, por conta de mais problemas, no setor amoroso dessa vez, abandonei o cursinho. Entrei em depressão mais uma vez, me afastei pelo INSS, voltei para Minas Gerais, não conseguia estudar, foi o ó.

Aos poucos fui me recuperando em 2012 conheci o W., larguei o emprego e prestei ENEM, fomos morar juntos. Em 2013 começamos a fazer cursinho pré-vestibular juntos. Então foi uma mescla de problemas financeiros e mais um resquício de depressão, larguei o cursinho pela segunda vez, me sentia derrotada.

No entanto, em 2012, apesar dos pesares eu estudei quando estava recebendo dinheiro através do Seguro Desemprego e fui razoavelmente bem no ENEM, tirei 717. Não consegui passar no começo do ano para Engenharia Civil, voltei a trabalhar e em Julho eu passei para Engenharia de Produção. Não queria fazer, mas o W. me incentivou a ir fazer a matrícula e ir ver pelo menos como era, já que é Federal e eu não iria pagar nada por isso mesmo.

Fui, fiz e gostei. Ainda quero a Engenharia Civil, mas a Engenharia de Produção é bem legal, ainda mais no IFSP do Campus São Paulo que é muito voltada para a área de Mecânica. Só que eu comecei a entrar em depressão de novo, porque não estava dando conta de trabalhar e estudar. Larguei o emprego novamente com todo o apoio do W., mas o estrago já estava feito. Não consegui recuperar a matéria perdida, comecei a ficar triste, afundei em várias provas e perdi prazos de trabalhos, não queria mais ir para as aulas. Juntou com a situação de pouco dinheiro, e quase não ter roupas para ir para a faculdade.

Quando eu digo pouca roupa, é pouca roupa mesmo! Tenho uma única calça jeans e duas blusas de moletom, e para o frio que faz em São Paulo de manhã, na época do inverno, mais o IFSP que tem as salas de aulas geladas no inverno, não dá pra nada. Mais os materiais de desenho, os livros caríssimos. Meus colegas de sala me chamando para ir tomar uma cerveja ou assistir um filme no cinema do Shopping ali perto. Não podia com nada disso.

E eu quis fazer muita coisa, aulas de alemão, participar do Diretório Acadêmico, colocaram-me como representante de sala (e eu aceitei) e fazer mais 10 disciplinas em que todos os professores exigem muito, foi a minha perdição. No final de Outubro já não conseguia ir mais, deixei todo mundo da minha sala na mão (já que eu era representante). Eu recebia auxílio financeiro da instituição e me sentia muito mal recebê-lo sem comparecer a faculdade.

Tudo começou a virar uma bola de neve e eu me escondi, morta de vergonha, por não ter dado conta de uma coisa que eu tanto queria. Se eu tivesse passado em todas as disciplinas, poderia pedir transferência interna para o curso de Engenharia Civil, que eu tanto quero, as matérias até o terceiro semestre são basicamente as mesmas.

Entrei em depressão profunda não sei pela qual vez, passava os dias chorando, dormindo e comendo. Só não fui jubilada da faculdade porque eu escrevi um e-mail enorme para a professora de desenho, explicando a minha situação e digitalizei os desenhos que eu tinha feito, ela me passou com 6,5. De 10 matérias fui reprovada em 9.

Passei as férias em Minas Gerais, na casa dos meus pais, e meio que me recuperei. Estou um pouco mais confiante de que posso recuperar tudo isso, o W., continua me apoiando (às vezes, tenho medo dele se cansar de mim e da minha depressão e me deixar). O blog tem me ajudado muito com isso também, escrever, expor o que eu sinto, às vezes leio o que eu escrevi e encontro soluções.

Mas ainda assim, estou com muita vergonha de encarar os meus colegas e responder perguntas. Por isso do nervosismo, os deixei na mão, não gosto de falhar com essas coisas, mas não posso me culpar por causa da minha doença. Depressão não se cura, aprende-se a conviver com ela e eu estou tentando. Tenho que enfrentar, não é mesmo? Amanhã começam as minhas aulas, eu não consegui dormir essa madrugada e vou virada mesmo. Quero que ninguém me note, que ninguém ligue para mim, quero ir, assistir as aulas e voltar pra casa. Me desejem sorte?

Mercúrio na Casa 11

Imagem 0034 - terco madeiraNão faz muito tempo, até dois anos atrás eu era obcecada pela Astrologia, por Misticismo, por Tarot e pela Wicca. As minhas decisões do dia a dia eram baseadas no horóscopo diário e no jogo de Tarot da semana.

Não sei bem ao certo como e quando isso começou, lembro que eu odiava ir à Missa com a minha mãe, aquela 1 hora tendo que sentar e levantar, cantar, repetir ou ouvir o que Padre dizia acabava comigo. Minha cabeça nunca esteve ali, entrava na Igreja e click: o cérebro ligava a imaginação. Um Domingo estava imaginando meu futuro como uma pessoa normal, no outro se eu fosse milionária e no outro se eu virasse mochileira. O Catolicismo não se adaptava a mim, achava uma babaquice toda àquela história de dogmas e da Bíblia.

Pra quem não sabe, a Wicca é uma religião neopagã, matriarcal, super da natureza, que cultua um Deus e uma Deusa. Os seus seguidores são os bruxos ou bruxas e o símbolo é um pentagrama dentro de um círculo. Achava que por eu me dizer bruxa conseguia mudar a cor dos meu olhos, fazer com que as pesssoas me enxergassem mais magra, eu vivia em um mundo paralelo. Malditos sejam Marion Zimmer Bradley, The Craft (Jovens Bruxas), Practical Magic (Da Magia à Sedução), Scott Cuningham e Eddie Van Feu. Aaaahn Eddie Van Feu (tentando relembrar o nome, achei ela no Facebook, até estou curtindo sua fan page em nome do meu passado sombrio, hahaha!). E teve também o clássico jogo “Converse com o seu anjo”, da Estrela, da Mônica Buonfiglio, pra resumir, era preciso, no mínimo, invocar o anjo (se é que era um anjo) e ir perguntando coisas a ele, quantas horas perdidas nisso, poderia escrever um post exclusivo pra isso, não sei como ninguém da época não achava estranho e o “brinquedo” vendia.

A Wicca foi a primeira que se dissipou da minha vida quando entendi que todas as religiões são a mesma coisa: invenção dos homens. Jostein Gaarder, obrigada pelas perguntas: “Quem é você?” e “De onde vem o mundo?”, graças à elas pude entender as religiões de uma forma mais simples e prática.

Depois foi o Tarot que sumiu da minha vida, e os meus agradecimentos vão para Edward Lorenz, a Teoria do Caos e o Efeito Borboleta. Não tem como prever o futuro, cada ação de agora reflete na seguinte. Não acredito em predestinação nem no caso do amor. Todo mundo vai sim achar a sua metade da laranja, mas essa metade vai ter as mesmas ideias, a mesma sintonia, e querer as mesmas coisas, amor é ó um tipo de interesse, um interesse bonito, mas não deixa de ser o que é. Uma vez, li não sei onde, que o Tarot reflete tudo o que já se sabe, são cartas com significados que podem ser mil e uma vez interpretados para a situação vivida, e depois dessa interpretação sente-se muito bem ou muito mal, mas sempre com muita vontade de viver (no caso de se sentir bem) ou de mudar de vida (no caso de se sentir mal).

E o horóscopo não era esse de jornal não. Era o de previsão completa, com direito a mapas astrais e sinastrias. Isso eu sei como começou: foi quando eu achei lá em casa uns papeis velhos e amarelados, dessas impressoras matriciais, cheio de nomes de planetas e ângulos, com o MEU NOME e uma previsão completa SOBRE MIM, do dia do meu nascimento, que meu pai mandou fazer (pois é, meu pai, quem diria). Eu nem um pouco supersticiosa, vi claramente os sinais do mundo sendo enviados a mim. Blergh!

Não vou dizer que deixei 100% de lado tudo isso, de vez em quando (de vez em quando MESMO, tipo uma vez a cada três meses) tenho a curiosidade e acesso o Personare, dou uma olhada nos meus próximos trânsitos astrológicos e depois esqueço.

Poderia estar aqui, falando sobre a Vênus Retrógrada e Mercúrio na Casa 11, ou sobre como “O Louco” influência no relacionamento. Aprendi a desenhar mapas e ler Tarot, li livros e mais livros sobre isso, só que hoje, pra mim, já não faz mais sentido. E é cansativo ficar tentando prever o que vai acontecer e ficar se prevenindo de todas as coisas ruins.

Tenho um conhecido-totalmente-místico que me mataria se lesse isto. Hahaha.

Voltei a ser Católica como uma boa brasileira que sou, se diz Católica mas nunca vai à missa. Hahaha! É mais simples rezar antes de dormir, e pedir que se houver alguém que esteja olhando por mim, que me ajude a viver só mais um dia e que me traga paz. Não quero mais descobrir os mistérios da vida ou mudar o mundo. Só quero paz e um pouquinho de dinheiro pra viver confortável.

Garota complexada

Imagem 0033 - vestido formatura azulDemorei muito tempo para começar gostar de roupas, maquiagens, acessórios, moda e afins.

Tímida, complexada, antipática, rude e grossa, acima do peso, unhas roídas até o toco, cabelo sem corte e preso em um rabo alto, sempre de calça de moletom e uma camiseta bem larga, que não me apertasse, não queria que ninguém visse as dobras da minha barriga. O último vestido que eu tive nessa época foi aos oito anos, cor de rosa de poá branco, da Lilica Ripilica, tinha um broche da ratinha no peito, e a última saia, do Piu-piu, que deixou de servir aos doze anos. A única bermuda que eu tinha era da escola, que também deixei de usar na mesma época que a saia deixou de servir.

Totalmente complexada dos 12 até os 17 anos. Tinha vergonha, tinha nojo do meu corpo. Todas as meninas que eu conhecia eram magras e mostravam a barriga sequinha, shorts curtos, já se depilavam e usavam maquiagem.

Por causa de todo aquele desconforto que eu sentia aboli as Barbies e todas as outras coisas de menina da minha vida. Fiz com que meu cérebro associasse que comprar roupas era coisas de menininha fresca e se maquiar coisa de piranha. Escondi-me atrás de livros, atrás do computador, do vídeo-game e dos estudos. Não me lembro de gostar de mais nada.

Vocês podem estar se perguntando onde estava a minha mãe numa hora dessas. Ela estava em casa, junto comigo, sempre passando seu batom, seu rímel, e seus 612 cremes antes de dormir. Nunca me ofereceu e eu nunca pedi, a vergonha me matava. Ouvi uma vez, conversando sobre isso com a minha mãe, que eu era madura e centrada demais para idade, tanto que ela não precisava se preocupar comigo.

Eu fiz algumas coisas por mim, sempre fiz escondido, sempre com medo de que alguém descobrisse, como se fosse errado. Tirar os pelinhos do meio da sobrancelha, roubar o barbeador do meu pai para raspar as pernas, levar a tesoura para o banheiro escondido para cortar os pelos pubianos. Depilação é uma coisa seríssima para qualquer menina de 12 ou 13 anos, toda mãe deveria incentivar a filha a fazer, ela não é mais criança, é tão importante quanto falar de sexo. As meninas riam de mim na escola porque eu tinha pelos demais na perna. Desde então, não importava a temperatura, eu estava de calça. Meninas gordas e feias não usam shortinhos ou saia.

Quando eu comecei a trabalhar, com 16 anos, fui à manicure pela primeira vez, tinha uma festa no dia, minha primeira festa de adolescente que eu tomei coragem para ir. Não queria nada chamativo, fiz francesinha bem clarinha e margaridinhas brancas delicadas nos dedões, só que a minha mãe viu, ela deu risada e tirou muito com a minha cara, ela e o meu pai: “A Cassie está apaixonada, arrumou namorado, fez até as unhas!”. Ela não me disse nenhuma vez se tinha gostado ou se estava bonito. Fiquei claustrofóbica de tanta vergonha. Não fui à festa. Tirei o esmalte no mesmo dia, me sentia patética.

Pode parecer boçal, mas eu choro quando eu me lembro disso. Mesmo hoje sabendo que os meus pais são assim, fanfarrões e que minha mãe não elogiou porque ela é distraída por natureza. Hoje, aos 26 anos é fácil ignorar uma brincadeira assim, é fácil entra na brincadeira e retrucar com um: “Mãe, não é um namorado, são dois!” ou então “Mãe, é namorada, sou lésbica!” ou então pra arrebentar “Mãe, estou grávida!”. Pra uma adolescente complexada de 16 anos é muito difícil, eu não tinha nem um décimo de maturidade que minha mãe achava que eu tinha.

Outro episódio com o mesmo final aconteceu quando comprei um lápis preto delineador e pintei os olhos.

Não fui à minha formatura da oitava série, mas no terceiro ano do Ensino Médio não teve escapatória. Ganhei um vestido (esse da foto, que ainda tenho guardado, e tirei essa foto hoje). Ganhei um conjunto de sombra azul. Uma sandália de salto. Escova no cabelo. Manicure. Sentia-me envergonhada. Minha festa de formatura foi um lixo, meus pais passaram um pouco da conta com a bebida e fui eu quem limpou o vomito da minha mãe, que não é acostumada a beber, no banheiro de casa, depois da festa. Deveria ter sido o contrário.

Só melhorei quando fui morar sozinha. Perdi a virgindade depois de três meses em Viçosa e aprendi a beber. Isso não é tão importante comparado ao que eu precisava mesmo, só que veio junto no kit faça você mesmo “Aprendendo a Se Dar Valor”. Passei o terceiro ano do Ensino Médio fazendo dieta e exercícios, pesava 58 quilos, estava magra e me descobri bonita. Não tinha dinheiro para comprar todas as roupas que eu queria, mas às vezes, pra sair, pegava emprestado. A minha última lição foi quando usei bota de salto alto e cano longo até o joelho com uma minissaia, eu era linda e todo mundo achava o mesmo.

Eu usava minissaia, vestido, roupas que eram um pouco mais justas. Descobri que eu sabia me maquiar, de tanto que eu lia revistas Capricho e similares. Eu me sentia bonita, feliz, e viva. Descobri uma parte de quem eu era e de quem eu podia ser.

Hoje eu estou acima do peso e sei que nunca mais vou ser tão bonita como eu fui com 18 anos, mas foram lições tão valiosas, que mesmo acima do peso, tem dia que eu me olho no espelho e penso: “Você é foda!”.

Não sei como terminar esse texto, eu acordei meio pra baixo, minha mãe está meio estressada e acabei relembrando quando eu vi o colar que eu usei na fatídica formatura, que estava no meio das bonecas da minha irmã mais nova. Então fica assim, meio sem final.

Esmaltes: meu pequeno vício

Imagem 0032 - 01 - esmaltes colecao caixa vicioQuem nunca parou indecisa em frente a uma prateleira cheia de vidrinhos fofos e coloridos não sabendo qual escolher, que atire a primeira pedra!

Tenho um vício e ele se chama esmalte. Infelizmente o de sapatos ou bolsas ainda é um vício muito caro para mim. Pois é, depois do fiasco que foi a minha adolescência, fui aprendendo a gostar de me cuidar.

Tenho hoje 114 vidrinhos, das mais variadas cores, marcas e tipos. E eu preciso quero comprar mais. Ok, necessito de um rehab!

Acabei me lembrando que quando eu tinha lá pelos meus 6 anos, eu tinha aqueles fluorescentes e com cheiro (que minha mãe detestava e quase não deixava eu usar). Tinha que tirar para ir para a escola (pelo menos nisso minha mãe tinha juízo). Quando eu passava o azul meu pai ficava me chamando de “salamandra”.

Depois de grande, o vício começou com a coleção 7 Vermelhos Capitais da Risqué, quando descobri que eu podia ser ousada sem ser puta, e que o vermelho ficava ótimo não só nas mãos como nos pés. Até então as unhas dos pés só eram pintadas com cores clarinhas.

Até uma Nail Art eu já arrisco!

Imagem 0032 - 02 - esmaltes colecao nail art vicioFazendo uma pesquisa para escrever esse post eu descobri o Esmalteria Club, paga-se uma quantia por mês, cerca de R$ 40,00 e aí recebe-se alguns esmaltes em casa. Vi os kits anteriores e realmente me interessou muito, uma pena que eu não disponho desse dinheiro mensalmente, se não compraria fácil, é um excelente investimento pra quem é viciada como eu!

Dos meus 114 esmaltes, separei os meus 7 queridinhos. E foi difícil.

Paetê Preto – Coleção Anos Dourados da Impala
Beija-flor – Anita
Dance Mais – Coleção Celebrate da Impala
Onda Fashion – Coleção Entre Nessa Onda da Avon
40 graus – Colorama
Bonequinha de Luxo – Coleção Cine da Risqué
Número 10 – Orcala

Imagem 0032 - 03 - esmaltes colecao preferidos vicioE qual seu esmalte favorito, cara leitora?

O artesanato e eu

Imagem 0022 - linhas costura coloridasNão adianta eu negar, o artesanato faz parte da minha vida. Eu sei bordar, fazer tricô, me arrisco no origami e nas kusudamas, já pintei pano de prato, já desenhei muito, fiz biscuit, bijuteria e cesta de jornal, dou uns pitacos na découpage e até na pátina. Só nunca tive paciência pra crochê nem pra fazer velas, hahaha!

Isso faz de mim uma mocinha prendada, tá vendo só? Hahaha!

E hoje, também não tenho mais paciência pra mais um tanto de coisa, não vejo mais graça em fazer biscuit como via antes. O chato do artesanato é que as pessoas não dão valor, querem pagar pouco, não enxergam a dedicação e todo o trabalho, sem contar no dom da pessoa, tem gente que não consegue fazer uma bolinha de massinha ou riscar uma reta com uma régua. Tem peças que demoram meses para serem feitas, e a grande maioria não dá valor.

Estou planejando voltar a bordar ponto cruz, tem uns quadros na casa da tia Sa. que eu quero muito fazer, não sei direito a história deles, só sei que são antigos, que vieram da Europa, os gráficos são de uma revista alemã e que a minha avó materna era doida por eles.

Comentei com a minha mãe e ela me deu total apoio, mas disse que eu tenho que esperar ela entrar de férias para procurar os badulaques .

Queria ter fotos do que eu já fiz até hoje, das minhas maquetes de castelo, das ponteiras de lápis de biscuit, dos cachecóis nunca terminados, das cestas de jornais nunca envernizadas. São lembranças que já estão fracas na minha memória, daqui uns anos talvez não me lembre de mais nada. E também tem o fato de que não gosto de pegar fotos do Google para ilustrar os meus textos, raramente vou fazer isso, quando não tem jeito mesmo, sabe?

Estou cheia de planos para 2014, cheia de esperanças. Não quero mais entrar em depressão e estou propondo para mim mesma o ponto cruz como uma das formas de canalizar essa angústia tão forte que eu sinto (pra quando o blog não estiver mais dando conta).

Quero voltar também a fazer tricô, encapar cadernos e caixas com tecido, e estou doida, mas doida mesmo para reformar a estante e a escrivaninha do quarto. Lembra que no post Mudanças e mudanças eu estava com medo de ter que mudar no final do ano? É que em Novembro o contrato de 30 meses do aluguel termina, realmente estava apavorada, mas conversei com o W. sobre isso, e ele disse para ficar tranquila, que é quase certo de que ele consiga renovar o contrato.

Isso me animou muito, quero pintar o quarto e a sala, comprar um sofá, o gabinete da pia, o box da cama. Quero uma casinha mais aconchegante, e o artesanato e os projetinhos DIY vão me ajudar muito nessa empreitada. E aí vou contando tudo, conforme for acontecendo, para vocês tá bom? Vocês me acompanham e me ajudam? Preciso de amigas pra conseguir isso, eu preciso de vocês! =)

Quero voltar

Imagem 0020 - igreja, ita, ceu, pracaÉ sempre estranho ir passar um tempo na casa dos meus pais, em Minas Gerais. Toda vez que eu volto lembro-me de toda a angústia, frustrações e da ânsia em querer sair de casa.

Minha adolescência foi complicada, não que eu não seja complicada hoje, talvez até mais. Rs. Eu era totalmente fechada, não saia para festas, não bebia, não tinha namorado, era bv, não gostava de maquiagens e de roupas. Era chata, muito chata. Para mim, todos os colegas da escola eram infantis e estúpidos, ninguém prestava.

Eu me achava feia, muito feia, não tinha autoestima e não gostava de mim. O pior é que eu não conseguia falar disso com ninguém. Acredito, sinceramente, que a raiz da minha depressão está nos meus 13 anos, quando mudei para Ita. Não me adaptei a nova escola, tinha saudades dos meus amigos e de todo o movimento de São Paulo.

A minha vida se resumia em estudar, ler, fazer algum tipo de artesanato, jogar vídeo game e mexer no computador. Nem de música eu gostava, fui começar a ouvir Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e AC/DC quando eu tinha 17 anos. Também não tinha Internet em casa, matei muita aula já (mesmo sendo CDF) para ficar em lan houses.

Meus pais não são ruins, muito pelo contrário, não sei o que eu faria sem eles. O único defeito deles é que eles são humanos e erram de vez em quando. Rs. Tudo o que eu posso reclamar deles na minha educação e na nossa convivência, eles estão dando altas bolas dentro com a minha irmã mais nova. Tenho certeza de que a minha mãe leu todos os meus diários (tenho diários dos 11 aos 19 anos), e por isso ela sabe exatamente o que foi que me deixou triste, magoada e assim tenta não fazer o mesmo com a A.

E toda vez que eu vou pra lá, toda vez, pode ser para passar um fim de semana, quinze dias ou um mês, eu fico nadando nesses pensamentos, revirando, procurando alguma coisa não definida. Fico angustiada, quero ir embora logo, voltar para a minha casinha, para a minha rotina. E hoje é só o primeiro dia… vou voltar dia 3 ou 4.

Tudo lá na casa dos meus pais é gostoso. A casa grande, a piscina, as cachorrinhas, as longas conversas com o meu pai, o ar sem poluição, o silêncio a noite, o sino da Igreja batendo de 15 em 15 minutos, a comida da minha mãe, sentar ao lado dela enquanto ela costura e ficar tagarelando e, principalmente, a companhia dos meus irmãos, que as vezes sinto-me sufocar de tanta saudades.

Só que a rotina não é a minha, não consigo ficar no silêncio por mais de 10 minutos, minha mãe briga comigo toda vez que eu compro algo, as coisas não estão do meu jeito, são meio largadas. Família: ruim com ela e muito pior sem ela. E quando as coisas tem que ser mais largadas, mais leves, levadas mais na esportiva, elas não são.

Gostaria muito de não sentir essas coisas, de não ser tão ranzinza, mas é que eu vejo tanta coisa errada. Gostaria de não ser tão crítica, tão chata e tão parecida com o meu pai. Mas não sei como mudar isso,nem como desligar, só por cinco minutos, os pensamentos em minha cabeça.

Merda de Natal

Imagem 0013 - arvore de natal enfeitesMesmo com o meu namorado vindo passar o Natal comigo, foi tudo uma merda. Meus dias aqui em Ita não tem sido dos melhores, não vejo a hora de voltar para São Paulo. Talvez eu tenha dado azar do Natal cair bem no meu pior dia da TPM, talvez ele só tenha sido ruim mesmo, como todos os últimos.

Pedi quinhentas vezes pra minha mãe o refrigerante Cibal e duas latinhas de Brahma ou Skol. Minha mãe me trás um tal de Taí e Bavaria. Não gostei quando vi o refrigerante e morri duas vezes quando eu vi a cerveja.

Não sou fresca, nem nada do tipo, mas foi juntando um monte de coisinhas, sabe? Meus pais brigaram o dia todo por causa da ceia e do almoço de hoje. Teve encrenca quando eu quis montar uma playlist que agradasse todos os ouvidos presentes, meu pai não deixou: “Minha casa e eu escuto o que eu quiser!”.

Não conseguia parar cinco minutos para conversar e dar atenção para o W.

Ajudei minha mãe em tudo que eu pude, quase uma escrava. Arrumei e faxinei a casa inteirinha no dia anterior, piquei 980 frutas da salada de frutas, fui ao supermercado com ela, fiz o salpicão de frango. Meu irmão e a família Buscapé dele chegaram, nem banho eu tinha tomado. E o que aconteceu? A minha cunhada lavou a louça duas vezes e virou a santa lá de casa. Fiquei com ciúmes, fiquei mesmo, eu quem fiz tudo e ajudei com tudo.

Sem contar a falta de educação dos meus sobrinhos postiços. Num geral, eu amo crianças, mas aqueles dois… nunca vi tanta malcriação junta! Não pediam licença para sair da mesa, separaram um monte de coisas no prato porque não comiam, chegaram e não falaram “oi” e foram embora sem dizer “tchau”, sempre gritando, não respondiam o que era perguntado para eles e os dois sempre de cara amarrada.

Meu pai não parava de reclamar da comida.

Esquecemo-nos de acender as luzes da árvore. Ninguém disse “Feliz Natal”. Não teve troca de presentes.

Nem meu namorado conseguiu me animar. Dormi chorando. Não quero nem ver como vai ser o Ano Novo. Juro que meus filhos nunca terão um Natal assim.

Aqueles Natais

Imagem 0012 - papai noel pelucia enfeiteEstou sabendo que os meus Natais nunca mais vão ser os mesmos da minha infância, quando os meus avós maternos eram vivos: felizes como comercial de margarina.

Aquela árvore gigante, que batia até o teto, com enfeites feitos pela minha própria avó. O pisca-pisca colorido e antigo era como vidrinhos em forma de arame farpado, eu já tive a infelicidade de pisar em um daqueles, com certeza mil vezes pior do que pisar em uma peça de Lego. Ela ficava no canto da enorme sala de teto de madeira, então não podia olhar atrás da árvore, porque ela estava pelada! Inversamente proporcional, embaixo dela os presentes iam se esparramando, mas como coração de mãe sempre cabia mais um, conforme a família ia chegando.

Também havia o brinquedo de Papai Noel que minha avó ganhou da tia Sa. em algum outro Natal passado. Ele soprava bolinhas de sabão enquanto andava, desengonçado e amedrontador como só um brinquedo antigo pode ser, e pra ajudar soltava uns “ho-ho-ho” muito macabros quando a pilha estava acabando.

Meu avô sempre, sem falha em nenhum dos anos, colocava seus vinis com músicas natalinas no seu Stereo System Toca Discos da CCE, sentava no sofá da sala e ali ficava, se deleitando com a família dele, sempre com um meio sorriso no rosto. (Nada acabava com o espírito natalino da minha família naquela época, nem mesmo uma enchente que houve em um dos anos.) De repente meu avô sumia e quem aparecia? Ahn, um pedaço de Torta Alemã se você adivinhar! Muito fácil, né?

O meu avô Papai Noel ia chamando a gente e ia distribuindo os presentes, perguntava se a gente tinha se comportado, fazia a gente beijar o bochecha dele. Quando eu tinha lá pros meus três ou quatro anos ele levou a minha chupeta… Era bom, putz, como era bom!

Minhas três tias reunidas e seus presentes combinando, para que uma não ficasse com inveja da outra; Todos meus primos reunidos e o M.A. olhando de cara feia para o G. porque ele sempre ganhava mais presentes (não era o favorito, mas a Tia Sa. levava TODOS os presentes que ele ganhava da família paterna dele, aí a competição ficava meio injusta mesmo, hahaha!); o G. podia ganhar mais presentes mas o melhor presente da noite era o meu, não era o mais caro nem o maior, mas era sempre diferente e todos os primos ficavam doidois. Meus pais fugiam de comprar o arroz com feijão básico, não tinha boneca do ano, bicicleta… era sempre algo inovador. Foi ursinho de pelúcia que repetia tudo o que se falava (em 1990 era o top), foi um Bip-Bop, varinha de condão que piscava e tocava músicas. Ah! Ô época boa, o peito até dói de tantas saudades!

Meus avos maternos morreram e minha família teve mais uns dois ou três Natais forçados. Amanhã vai ser só meu pai, minha mãe, minha irmãzinha, meu irmão, a mulher e os dois enteados dele, meu namorido e eu. Apesar de tudo, estou esperançosa, gosto da minha família e acho que todo mundo está se esforçando para que dê tudo certo, até meu pai, aquele velho rabugento que eu amo.