Aqueles Natais

Imagem 0012 - papai noel pelucia enfeiteEstou sabendo que os meus Natais nunca mais vão ser os mesmos da minha infância, quando os meus avós maternos eram vivos: felizes como comercial de margarina.

Aquela árvore gigante, que batia até o teto, com enfeites feitos pela minha própria avó. O pisca-pisca colorido e antigo era como vidrinhos em forma de arame farpado, eu já tive a infelicidade de pisar em um daqueles, com certeza mil vezes pior do que pisar em uma peça de Lego. Ela ficava no canto da enorme sala de teto de madeira, então não podia olhar atrás da árvore, porque ela estava pelada! Inversamente proporcional, embaixo dela os presentes iam se esparramando, mas como coração de mãe sempre cabia mais um, conforme a família ia chegando.

Também havia o brinquedo de Papai Noel que minha avó ganhou da tia Sa. em algum outro Natal passado. Ele soprava bolinhas de sabão enquanto andava, desengonçado e amedrontador como só um brinquedo antigo pode ser, e pra ajudar soltava uns “ho-ho-ho” muito macabros quando a pilha estava acabando.

Meu avô sempre, sem falha em nenhum dos anos, colocava seus vinis com músicas natalinas no seu Stereo System Toca Discos da CCE, sentava no sofá da sala e ali ficava, se deleitando com a família dele, sempre com um meio sorriso no rosto. (Nada acabava com o espírito natalino da minha família naquela época, nem mesmo uma enchente que houve em um dos anos.) De repente meu avô sumia e quem aparecia? Ahn, um pedaço de Torta Alemã se você adivinhar! Muito fácil, né?

O meu avô Papai Noel ia chamando a gente e ia distribuindo os presentes, perguntava se a gente tinha se comportado, fazia a gente beijar o bochecha dele. Quando eu tinha lá pros meus três ou quatro anos ele levou a minha chupeta… Era bom, putz, como era bom!

Minhas três tias reunidas e seus presentes combinando, para que uma não ficasse com inveja da outra; Todos meus primos reunidos e o M.A. olhando de cara feia para o G. porque ele sempre ganhava mais presentes (não era o favorito, mas a Tia Sa. levava TODOS os presentes que ele ganhava da família paterna dele, aí a competição ficava meio injusta mesmo, hahaha!); o G. podia ganhar mais presentes mas o melhor presente da noite era o meu, não era o mais caro nem o maior, mas era sempre diferente e todos os primos ficavam doidois. Meus pais fugiam de comprar o arroz com feijão básico, não tinha boneca do ano, bicicleta… era sempre algo inovador. Foi ursinho de pelúcia que repetia tudo o que se falava (em 1990 era o top), foi um Bip-Bop, varinha de condão que piscava e tocava músicas. Ah! Ô época boa, o peito até dói de tantas saudades!

Meus avos maternos morreram e minha família teve mais uns dois ou três Natais forçados. Amanhã vai ser só meu pai, minha mãe, minha irmãzinha, meu irmão, a mulher e os dois enteados dele, meu namorido e eu. Apesar de tudo, estou esperançosa, gosto da minha família e acho que todo mundo está se esforçando para que dê tudo certo, até meu pai, aquele velho rabugento que eu amo.

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